segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O homem não existe: Subvertendo Lacan


Lacan dizia “a mulher não existe”, sim há todo um arcabouço teórico para dizer sobre isso. E mulheres não se assustem!, essa frase tem muito relação com a questão inconsciente, e em toda obra lacaniana a questão da mulher é de alguma forma privilegiada.
Digo-lhes, porém, contrariando Lacan, que o homem não existe. Pois, a referência do que é ser um homem não há. Por mais que a sociedade diga, o pai transmita, o próprio sujeito inventa, toda vez que ele se encontra com a mulher (é... essa mesma que não existe, ou que ele não entende) o sujeito masculino se depara com seu ponto de não ser (no sentido de existir). Tudo o que inventaram de resposta para o macho não diz dele como homem, pode até dizer de outros homens, mas não dele! É interessante que esse é o ponto crucial que os homens se vêem, mas que também não querem mostrar jamais. Ali onde eles não sabem o que fazer com uma mulher, o ponto onde as técnicas, conselhos, saberes faltam é o próprio horror.
A mulher é o próprio horror encarnado em forma de gente. Daí fazer esse horror virar amor vai um longo percurso... Entretanto, esse horror da mulher traz em si também o mistério, já que apesar de ele se deparar com seu “não saber” do que fazer com essa figura na sua frente, há também algo que o fascina, que ele não saber bem delimitar o quê, mas que o encanta.
Difícil é para a mulher que quando vê o homem em sua frente ACREDITA que há um homem, mas, como diz Leoni “perto de uma mulher são só garotos". Nesse momento as mulheres reivindicam: “onde está o homem?”. Elas no seu papel mais conhecido vão reclamar que foram enganadas, que eles mentiram, não prestam, etc.
Talvez, e aí é uma opinião minha, a única coisa que existe é a mulher. Esse ponto que todos (seja homem ou mulher) se deparam com uma dúvida, um não saber que é feminino: “o que eu faço?”. O homem enquanto uma tentativa de ser homem, e a mulher... bom isso nem Freud conseguiu decifrar. Quem sabe o que ela seja é o seu desejo? (Em todos os possíveis sentido!)

domingo, 8 de novembro de 2009

A saúde sob foco


Quem está no campo da saúde vem percebendo que a tecnologia e a globalização vêm mudando não só o cenário do mercado, mas também conseguiu chegar nos hospitais e consultórios relacionados à saúde.
A medicina para quem está acompanhando, já não é mais a mesma medicina que tínhamos antigamente. Com a falta de recursos tínhamos médicos que nos perguntavam de toda nossa vida, vida da família, apalpava-nos todo, olhava nossos olhos, abríamos a garganta e por ai vai. Porém o que temos hoje é uma medicina que não vive sem aparelhos, sem os exames. É claro que eles são muito importantes, eles acessam o que até então não era acessível. Hoje você chega a um consultório médico e o que recebemos é uma bateria de exames para fazer, e saímos de lá sem saber nada. O médico mal olha nos nossos olhos, não sabe nosso nome se bobear nem o mal que estamos sentindo.
A medicina virou uma técnica laboratorial, e que como ouvi um médico mais antigo dizendo, “de que adianta esse tanto de exames sofisticados se não temos profissionais para saber interpretá-los? É como uma excelente arma na mão de um péssimo atirador, e se você coloca um 38 na mão de um cara bom mesmo, faz efeito até melhor.” É a medicina? Não só ela, mas o efeito do mundo moderno nas relações humanas. A tecnologia deve servir para nos auxiliar, não para nos substituir! A capacidade hoje em dia de raciocinar, de fazer uma análise crítica, de uma consulta aprofundada está cada vez mais a margem.
Faço parte de um projeto de pesquisa no Hospital das Clínicas de BH, lá os médicos preceptores estão tentando resgatar esse ponto que a saúde vem perdendo de informação e deixando nas mãos de aparelhos. Essa questão da fragmentação, a especialização me preocupa profundamente. Sou a favor sim de uma especialização, mas não dessa de que se eu de pés, se o problema for no dedinho mindinho já não entendo. Uai! Essa fragmentação que está nos diversos campos da nossa sociedade.
Bom, esse texto teve a intenção somente de alertar para esse perigo que vem acontecendo na nossa sociedade e é preciso ficarmos em alerta para refletirmos que tipo de pessoas estamos sendo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Você sabe o que você acerta?


Eu imaginava até então que tudo o que as pessoas faziam era na tentativa de acertar. Mas hoje dei uma guinada e pensei: acertar o quê? Nem sempre é para que as coisas fiquem bem no final, ou também poderíamos nos perguntar o que a pessoa está chamando de bem. Enfim, o que se busca acertar nas nossas ações?
Não acredito que seja um final feliz. Na realidade o que as pessoas mais fazem é tornar suas vidas mais complicadas, já reparou? Para e pensa um minuto. A pergunta de o que se quer acertar ainda persiste... o alvo é sempre um ganho secundário que se tem com o sofrimento. É triste, mas é certo. Nossas ações, tanto as mais bem intencionadas quanto as mal intencionadas, visam algo além de tentar fazer um final feliz.
É desse ganho secundário é que temos que nos ater, questionar e estranhar. Ele é tão rasteiro que passa sem a gente perceber. Só nos damos conta quando nos deparamos com a conseqüência dos nossos atos. Geralmente isso vem acompanhado de muita perda...é preciso ficarmos atentos a isso.
Bom, não dá para falar mais a respeito disso não, que esse é ponto mais subjetivo e que cada um vai se queixar numa análise. Lá sim é o lugar de se queixar. Porem para não perder a viagem, já que instiguei até aqui vou completar com uma história provavelmente familiar e aposto que ninguém nunca havia pensado nisso.
A história de Édipo Rei todos conhecem, não é mesmo? O pai sabe pelo oráculo que não pode ter filhos pois esse filho o matará. Mesmo assim o Rei tem um filho e manda matar. Não matam e doam a pequena criança para outras pessoas criarem. Édipo é avisado do porque era doado, pois mataria seu pai. Édipo cresce e vai para a guerra, SEM SABER, mata seu pai e fica com a sua mãe. O mais importante dessa historia vocês diriam: é que ele gosta da mãe e quer matar o pai. Errado! Bacana, né? O que Jairo Gerbase aponta no seu texto é que o bacana da psicanálise não foi o complexo de Édipo, e sim foi que Édipo fez tudo isso SEM NADA SABER.A descoberta da psicanálise se situa aí, naquilo que você faz sem saber que está fazendo. Ali onde você acha que não tem nada com isso, é onde está mais atolado. Fala se isso não é lindo e instigador? Retomamos a pergunta: o que você quer acertar (e completando), sem saber?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Que é ser responsável?




Um assunto que tem permeado minha cabeça nos últimos tempos é o tema da responsabilidade. Bem, como vocês viram no texto anterior tangencio essa questão, sem aprofundar sobre o tema da responsabilidade e sim falando mais da originalidade de um texto em primeira pessoa.
Porém, não há como falar em subjetividade sem falar de responsabilidade. Esse anda sendo para mim um aspecto central da discussão. Subjetivar é você apreender o que está a sua volta, porém não como um aspirador que suga o que está fora, e sim que capta o de fora de acordo com elementos que se tem dentro. Ainda não li (mas com certeza irei ler) um capítulo de Lacan que fala da banda de moebius, essa da figura ao lado. Isso quer dizer que não há externo nem interno, quer dizer que o que está dentro está fora e o que está fora está dentro. Assim é nosso contato com o mundo, é via elementos internos que conseguimos ter um laço social e isso se integra na realidade psíquica. Por isso, cada cabeça uma sentença, apesar de os elementos serem os mesmos.
Recapitulando sobre a responsabilidade e subjetividade, temos então um ato de resposta frente ao que é nosso. E responsabilidade é o ato de responder frente há algo que nos exige alguma atitude. E como é que respondemos? Respondemos com os elementos que temos internamente, e é isso que temos que fazer, ser responsável por aquilo que fazemos questão (no sentido de perguntas e naquilo que queremos) e também no sentido de responder pelos atos que fizemos. Ocasiões que me arrepiam é quando há algum tipo de situação e as demais pessoas falam: “ah fulano fez isso porque é mal caráter”. Poxa, uma coisa que não entra na minha cabeça é por que as pessoas acreditam que essa resposta que ela deu tem a ver com o que a outra pessoa fez? Quem são essas pessoas que respondem pelos outros, por um ato que não lhe é próprio? Se está difícil responder pelo o que já é nosso, daremos conta de responder pelos atos dos outros? Ah faça-me o favor. Uma frase que sempre utilizo: ache menos e pergunte mais. Isso porque em toda ação há uma lógica implícita, e essa lógica diz de um funcionamento psíquico, quem tem que responder pelos atos é quem cometeu o ato.
Logo, a responsabilidade é um ato subjetivo... fazer uma análise é se tornar responsável por aquilo que se faz e fala. Realmente são poucos os que têm coragem de assumir suas próprias rédeas. Mais fácil é pedir para que o outro responda e continuar na re-clamação.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Originalidade de um texto em 1ª pessoa




A norma manda que o texto culto seja escrito em terceira pessoa do singular (acredita-se, sabe-se), e muito raramente na terceira pessoa do plural (sabemos, acreditamos). Porém, isso descaracteriza totalmente o belo que é ser autor de seu próprio texto. Na realidade isso é tão somente para garantir a tão sonhada neutralidade científica, só sonhada, porque nunca a vi na vida real.
Estava lendo um livro sobre a Reforma Sanitária Brasileira, e entre textos enjoativos e outros cansativos, encontrei um que deu prazer de ler. Um que narrava em primeira pessoa, um texto belíssimo que fala da mesma coisa que os outros, mas com a originalidade que é uma redação que fala em primeira pessoa. É uma produção original, algo que ele está falando e respondendo pelo seu ato de redigir um texto. Não “acha-se” ou “sabe-se”, é “eu sei, eu acho”. Um texto que nomeia a si próprio como autor das palavras ali escritas é um ato de responsabilidade, um ato que responde a uma questão que foi formulada pelo próprio sujeito.
Não se tem neutralidade científica e nem nenhum tipo de neutralidade. “Toda a vista é a vista de um ponto” já dizia Leonardo Boff se não me engano. Logo, toda opinião ou conceituação de determinada situação vai levar consigo o seu mais intimo que é a sua percepção da situação. Só que... as pessoas degradam isso, acreditam que isso é pejorativo. Muito pelo contrário, já que a realidade é algo que ninguém toca, mas sim todo mundo cria, vamos pelo menos ser responsáveis por aquilo que proferimos.
Nesse texto por exemplo, o autor ( Gastão Wagner de Souza Campos) pede desculpas, permitam-me citar ele, já que é para ser original: “E goiano que sou, vou logo repetindo como meus antepassados: - desculpem-me, qualquer coisa... qualquer coisa. Afinal, as coisas não são controláveis, ninguém as controla, nem os planejadores mais estratégicos. Em nenhuma situação. Nos laboratórios e em programas de computadores, talvez, quem sabe, se invente aparência de controle que nos apaziguaria. Já na vida real, é melhor desculpar-se, em princípio, pelo descontrole.”[1]
É muito mais bonito, espontâneo quando alguém traz em seu texto uma visão que é dele, e a primeira pessoa na redação evidencia esse tipo de leitura (e de escrita também). Bom, a finalidade do texto foi a de mostrar que nossos textos são parte de nós, parte que podemos eternizar algo de nós que somos tão finitos. Mais uma vez proponho a entrada do subjetivo na ciência que se acha tão objetiva, na realidade acredito que talvez a única coisa que ela não seja é original.
[1] CAMPOS,G.W.S, Análise crítica das contribuições da saúde coletiva a organização das práticas de saúde no SUS. In: FLEURY, Saúde e Democracia – A Luta do CEBES, São Paulo: Lemos Editora, 1997

sábado, 15 de agosto de 2009

Gripe nova e comportamentos velhos!




O que estou vendo como conseqüência da gripe suína (Influenza A- H1N1) é de assustar, pelo menos a mim. Acredito que todos também já devem ter notado, assim como também deve ter sentido e muito pouco expressado. A discriminação.
Ando ouvindo relatos sobre a exclusão das pessoas com a doença, ou até mesmo com a suspeita. Ninguém senta do lado de uma pessoa com mascara dentro do ônibus ( vai ver ela está se protegendo e já estão julgando), hospital é um suspeito, todo mundo levanta e sai de perto dele, espirra-se todos te olham, se te conhecem dizem: “é suína?”, se não te conhecem viram a cara para não respirar o mesmo ar (até uns meses atrás as pessoas eram capazes de falar “saúde” quando se espirrava, hoje querem te linchar).
Por esse processo que venho assistindo venho me surpreendendo pelo lado negativo com relação a esse quesito. Gente está virando cada um por si, e poucos pelos outros. Brinquei esses dias que estamos no fim do mundo, não que eu acredite piamente nisso, mas o fim de algo é sempre onde começa o novo e pensando assim é o fim dos tempos sim. É o fim de um ambiente puro e saudável, é o fim de um planeta que sempre deu e nunca cobrou, é o fim de pessoas acharem que são boas, é o fim de muitas coisas. Para começo de outras.
Penso em começo quando nos deparamos com esse ponto limítrofe entre saúde e doença, entre fartura e escassez, nesses períodos de transição que nos empurram para mostrar-nos realmente quem somos.
Bom fica ai uma alerta, essa questão da discriminação que está acontecendo. Pior que o vírus da gripe novo é um preconceito velho!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Gripe Inlufenza A-H1N1




Informes técnicos:
Antes de começar o texto propriamente dito acho interessante situar as pessoas sobre o que é essa gripe. Todas as gripes tem o nome de Influenza, isso é caracterizado como gripe no popular. Então, existem três tipos: Influenza A, Influenza B e Influenza C. A gripe A é de um tipo de vírus mais mutável em sua composição genética, o que quer dizer que ele se modifica rapidamente ficando mais resistente e podendo provocar um novo subtipo de vírus (como o H1N1); o tipo Influenza B tem mutação, porém não tão elevada quanto a A por isso apresentando um risco menor à população; e por último a Influenza C que não tem risco de mutações genéticas e por isso não apresenta maiores complicações.
Bom, o que isso tem relação com o nosso organismo? Assim como quando qualquer microorganismo entra em contato com nosso corpo, ele vai desenvolver formas de se defender de agentes patogênicos usando nosso sistema imunológico que são os anticorpos. Quando nós pegamos sarampo, por exemplo, nunca tínhamos entrado em contato com ela antes, certo? Então. Assim é com essa gripe, a diferença é que sarampo para o mundo inteiro já era conhecido, mas para o seu corpo não. E ao entrarmos em contato com cada novo vírus, dengue, sarampo, catapora, iremos ter que colocar nosso organismo para trabalhar. Somente assim é que ficaremos imunes às doenças entrando em contato com elas. Aposto que sua mãe ainda falava: “deixa eu por esse menino junto do seu que está doente, que é bom que pega logo e já desenvolve defesa!” Quantas vezes não ouvimos isso? É a mesma coisa, porém não conhecíamos esse vírus, ele começou a existir agora. É mais preocupante? Sim, pois estamos colhendo o efeito dele agora, e como ele muda muito rápido geneticamente, o problema é que sempre iremos que ter mais e mais defesas para combatê-lo. O que não acontece com aquela gripe que todo inverno você pega, que com o passar dos anos nem te baqueia tanto quanto da primeira vez, pois você já desenvolveu imunidade.
Agora falando sobre as gripes de pandemias, influenza aviaria e as gripes sazonais. As gripes sazonais são as que ocorrem em determinadas épocas do ano, quando o clima fica mais propicio para o surgimento de infecções, como no tempo de inverno. Tempo frio, maior perda de calor, maior dispêndio de energia, maior fragilidade do organismo, logo, uma bela gripe. Temos ainda a Influenza aviária, esse tipo de infecção é um tipo raro e que tem diferentes graus de gravidade (são as Influenza A-H5N1). As gripes pandêmicas são essas que tem características completamente diferentes (vírus mutado geneticamente, pois os sintomas acabam sendo os mesmos) e que a população apresenta baixa imunidade ou nenhuma, ainda. E como nós bem sabemos, gripe se transmite muito facilmente.
Outro informe que eu acho bacana de é que no Brasil, como no mundo todo, desde a gripe aviária há um plano de controle – PLANO BRASILEIRO DE PREPARAÇÃO PARA UMA PANDEMIA DE INFLUENZA. Ou seja, desde de 2000 há um plano de contingência que já vinha estabelecendo parâmetrtos para caso ocorresse esse tipo de pandemia já haveria um plano que nortearia todo o caos. É interessante dar uma olhada, apesar de ser grande pra caramba, vale a pena ficar por dentro das políticas e do que vem sendo desenvolvido, afinal de contas, faz parte da nossa cidadania ficar a par das políticas e também da nossa saúde nesse caso.
Ainda quero falar o principal sobre a tal gripe. Até agora foi informes técnicos. Segunda etapa esta no forno!




Referências:




Guia de Bolso: Doenças Infecto Parasitárias

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Paternidade Pre-sumida


Foi sancionada em 30/07/2009 a Lei da Paternidade Presumida. Essa lei discorre a respeito de que no caso do teste de DNA ser recusado o suposto pai, então, presumidamente seria o responsável pela concepção do filho em questão*.
Tive conhecimento disso pela TV Senado, no Programa Assembléia Debate, em que estavam compondo a mesa uma advogada, dois senadores de Minas Gerais e um psicanalista. Nesse debate falaram a respeito do aspecto legal dessa lei, assim como também um aspecto de responsabilidade social do Estado em assegurar para o filho a função do pai em sua na criação. O debate foi bem rico, a advogada trouxe considerações abrangentes e verdadeiras com relação à essa lei e os senadores também mostraram-se a par dos problemas sociais brasileiros. O psicanalista também teve seu mérito, pois trouxe um importante elemento - o caso a caso - afim de não querer generalizar a lei. Lei nós sabemos é para todos, mas surte o efeito é no um a um.
Bom, como fiquei com minha língua coçando para dar minha opinião a respeito do assunto, decidi trazer para o blog essa discussão.
Temos então duas questões a tratar. A primeira é da responsabilização do ato sexual frente à concepção de uma criança. É claro que como a mulher é quem traz consigo o filho, a carga dela acaba sendo maior. Mas, há que compartilhar o encargo com o parceiro que também teve sua parcela na hora da concepção. Essa responsabilidade, eu chamo do aspecto legal. Pois, o Estado tem o dever de chamar o individuo para a responsabilização de seus atos. É para isso que nos organizamos em sociedade, para que conjuntamente ofereçamos limites e segurança para a vida como um todo.
Posteriormente, temos a função do pai na criação do filho. Isso já é uma questão muito particular e que não temos subsídios para afirmar que a lei vai atingir esse patamar. A paternidade não é algo que vem junto da questão legal, e sim algo que é construído. Não se é pai ou mãe, tornam-se pais e mães. Quero chamar atenção para a palavra função, que não necessariamente se liga à pessoa do pai, e sim algo que transmite o que um pai pode oferecer. Não quero com isso, ignorar a pessoa do pai. Mas sabemos que há muitos pais que não transmitem essa função, deixando com que a sociedade ou outras pessoas (não necessariamente do sexo masculino) façam esse tipo de função. A função paterna é “não se pode fazer tudo o que quer, mas algumas coisas são possíveis.” Apesar de parecer simples, isso convoca o próprio sujeito enquanto pessoa para assumir esse lugar. E que muitos homens não conseguem daí responder, por uma questão pessoal. Penso então, que a lei tem que continuar assumindo o seu papel legal sem, contudo, querer abranger algo que é da construção de cada indivíduo em sua relação com seus atos.
No que se refere aos filhos, sendo eles com suporte do pai físico ou não, terá que se haver com sua existência, sua história e operar com uma função paterna transmitida. Ou seja, operacionalizar esse mecanismo de limite e correr atrás do que lhe é possível. É a tarefa de todos nós enquanto filhos de um Nome do Pai.


* Vale ressaltar que a paternidade presumida só é considerada quando há indícios e provas concretas de envolvimento dos parceiros na época em que a criança foi gerada.

terça-feira, 28 de julho de 2009

No Limite


Ouvi anunciando o programa da Rede Globo “No Limite” e ao ouvir isso me questionei: “quem de nós não vive no limite?!”. Sim, porque o limite são as nossas batalhas do dia-a-dia, o sofrimento de cada um, a dificuldade que é viver no mundo moderno, o conflito interno que cada um carrega e como diz Freud “não temos como correr de nós mesmos.” Lá no programa pelo menos as pessoas vão correr para sobreviver, ou melhor, para ganhar um prêmio. Nosso limite é tão somente para continuar a viver. Não sei, mas minha vontade era de falar que todos nós vivemos no limite, no limite nosso principalmente.
Outra coisa, as pessoas pensam que é preciso ultrapassar nossos limites. Espanto-me ao ouvir tal afirmação, sim porque se nós temos limites é justamente para respeitá-los, é para que eles operem nas nossas vidas. Acredito que não temos que viver no limite, nem além dele, mas sim atento ao que fazemos nas nossas vidas que chegamos no limite não damos conta e nos culpamos por não conseguir alcançar nossos ideais. Já parou para pensar que os ideais estão sempre além do nosso limite, e por não nos respeitarmos acabamos devastados por nós mesmos não atentando que nos desrespeitamos. Deveríamos saber dos nossos limites para viver poder respeitá-los, fazendo por onde não chegar neles e manter certa distancia, criar soluções para evitarmos de chegar nesse limite.
Bom, é isso... minha opinião é de que todos nós participamos desse No Limite, e sinceramente, espero que possamos conseguir não precisar viver nele.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Direito a Ser Humano


Apesar de ser psicóloga, ou talvez por isso, ando questionando o meio em que mudanças estão sendo efetuadas, ou melhor, forçadas.
Sinto-me mais em um imperativo de fazer as pessoas mudarem do que necessariamente acolher o modo de vida. Acho que toda forma de vida merece ser respeitada, e há impasses na vida em sociedade que irão acontecer. Há formas de punir e gratificar que vão ter que existir. Mas as pessoas ficam numa utopia de uma sociedade que vai ser harmônica, que vai ser batalhadora... Claro que com isso não vamos ficar de braços cruzados vendo o tempo passar. Só que acho fundamental levarmos em conta alguns pontos, como por exemplo o que respeito à vida das pessoas.
Vejo muita política pública tentando mudar a vida das pessoas. Gente, há perdas que vamos ter que lidar, há pessoas que não querem sair do estilo de vida que elas têm. Acho extremamente violento o ato de querer mudar as pessoas. Se algo que aprendi é que cada um nessa vida encontrou um modo de lidar com o difícil que é viver. Sim, viver não é fácil... é um ato que te consome e te convoca a todos os dias a uma árdua tarefa de lidar com os demais e si próprio.
Pelo menos no meu trabalho, quero ser diferente, quero ter um ponto de respeito em relação às vidas. Um ponto que por um lado aceita o modo de vida, e que oferece na outra mão uma chance de escutar o que de si próprio angustia. Alguém para testemunhar aquela história está ali. Uma fala de Miller, psicanalista francês, me marcou muito quando ele diz que o analista provem de tudo aquilo que esse não faz, ou seja, o protagonista da história num consultório não é o psicanalista, e sim a própria pessoa que chega. E se de repente eu chego com minha fome de mudar as pessoas e o modo de vida delas, eu simplesmente ponho ela no lugar de fantoche de um desejo que é meu de mudança para ela. Isso para mim, sim, é a maior violação dos direitos humanos, o direito a ser humano!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Desmedido


Se há algo que nos encontramos a vida toda é o desencontro
De todo tipo de toda forma com todo o seu por vir...
A medida não é certa, a nossa dosagem não é correta
Saí tudo fora da linha o suficiente para não nos apropriarmos da palavra "feliz" ou "suficiente"
E tudo aquilo que queríamos dizer nunca são as palavras pronunciadas
O sentido daquilo que queríamos escond(t)er transparece por entre as linhas
E nosso semblante é o de surpresa diante do que em nós não é nosso
E se a angustia apaziguasse tão somente com as palavras, textos eram somente terapêuticos
Mas não... há algo que a palavra não toca, há sentimentos que não deciframos e há pensamentos que jamais entenderemos....

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Políticas Públicas


Gente, alguém se deu conta do quanto aumentou nesses últimos anos o número de políticas publicas ? você deve participar de alguma, será que não?
Estou na rede pública de saúde, e vejo o enorme número de política sendo implementadas uma atrás da outra. Me parece que é uma tentando dar conta do que as outras não deram conta, da lei que é insuficiente e o que é pior da corrupção que faz com que tenha sempre que haver mais e mais projetos para implementar a sociedade.
Na realidade é muito bom para os governantes, na minha opinião, na medida em que assim eles “mostram serviço” e nós aqui do outro lado acreditamos que isso é serviço. Acredito que um país sério que se atenha às questões dos cidadãos são aqueles que diminuem o número de políticas, já que as leis são seguidas, os órgãos fiscalizam e a população menos corrupta. Se esses pontos estivessem funcionando não haveria essa parafernália toda.
Eu disse acima população corrupta e não corrijo, porque acho que políticos eleitos são o retrato da sociedade que criamos. Furar fila é corrupção, pagar para fazer seu trabalhos é corrupção, e tudo isso ao qual vemos que de alguma forma burlamos para tirar proveito de alguma situação. É claro que sempre iremos ter um proveito nas situações, caso contrário não justifica fazê-las. Isso é um princípio psíquico, mas há uma diferença bem gritante daqueles que burlam as regras e daqueles que delas utilizam para se satisfazerem. Há ai a dimensão de certo sacrifício para atingirmos aquilo que queremos, ou seja, em nome de um proveito lá na gente nós perdemos um pouco no presente para ganhar no futuro. Nisso se baseia uma noção de sociedade em que cada um cede um pouco do seu prazer para continuar tendo algumas parcelas de prazer ao longo da vida.
Retomando sobre as políticas públicas, o que vejo é o Estado tentando acabar com os problemas sociais, sendo que esses sempre vão demandar mais e mais. Principalmente aqueles que acham que mais necessitam ( não porque necessitem, mas porque assim se julgam). Vendo isso acho um rodeio sem fim em que não há implicação de cada individuo com a parte que lhe cabe para construir algo ao seu redor. Isso porque acredito que não seja por via de mais e mais políticas e sim de atitudes políticas, pois essas sim são o diferencial e estão relacionadas a uma ética pessoal. Tema para a próxima postagem!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O sujeito e os grupos


Fiquei o fim de semana pensando o que iria escrever no blog, porém nada veio à mente. Na realidade o pensamento só viria hoje de manhã quando ao ouvir sobre o sujeito em grupos eu percebi o quanto era importante esse fenômeno e debater sobre ele. Foi em uma palestra que participei do Domenico Consenza (por sinal bem interessante), mas não era exatamente o foco da discussão tratar de grupos. Mas acabou sendo o meu foco.

Antigamente haviam grupos, e sempre ouve grupos. Pois esses são uma de nossas formas de relacionamentos. E se navegar é preciso, relacionar-se então muito mais. Os grupos fomentam discussões, opiniões diversas, contraposições, etc. Mas pensando no mundo hoje, o que são grupos? São meros agrupamentos de pessoas com mesmas opiniões. Observo os grupos de sites de relacionamentos e/ou de adolescentes, e o que se vê são pessoas cada vez mais alienadas nas suas próprias características. Há um agrupamento de pessoas que se identificam com uma certa nomenclatura e ali se encerra. Assim como: bulímica, anoréxica, depressiva, maníaca e por aí vai.

Não contraponho aqui que deixem de existir esses grupos. De qualquer forma há uma interação mínima que seja. Só que mais uma vez perguntarei: onde está o singular? Onde ele pode aparecer sem que seja pela via do tudo igual? Falo isso até em instituições mesmo, num pensamento cada vez mais consistente que encerra ali um modo de agir de determinadas empresas. É interessante porque por detrás dessa fala de “somos todos iguais com os mesmo direitos e deveres” o que há é um imperativo: “Faça! E faça desse jeito!”, que governa e limita o que há de mais criativo de cada um, que é lidar com as situações adversas.


Bom fica aí mais um tema para instigar a observação de vocês.

sábado, 16 de maio de 2009

Qual a diferença da Psicologia e da Autoajuda?


Por mais que algumas pessoas saibam que psicologia não é autoajuda, ainda vemos nas prateleiras muitos textos de autoajuda dentre os livros de psicologia. Isso reflete o que a grande maioria das pessoas pensam em relação à psicologia.

O pensamento vigente sobre o conceito de psicologia é o mesmo que opinião, ou uma fórmula sobre determinada situação e/ou comportamento. Como se o comportamento fosse algo da ordem do Universal, uma solução só para todos. Será mesmo que você vai no psicólogo para ter uma opinião do Outro sendo o vivente é você? As soluções da ordem do igual fazem das pessoas mais iguais, mais um no mundo. Bion, um grande estudante dos grupos, falava que o sujeito se insere na sociedade e em pequenos grupos não para ser igual a eles, mas sim para ser reconhecido na sua particularidade. Ou seja, numa análise, numa psicoterapia a pessoa vai querendo algo que do mais intimo dela apareça. E que com certeza se ela quer que apareça é porque ela ficou igual aos demais, respondendo ao que os outros esperavam que ela fizesse. Ainda que isso não seja tão consciente, ela se incomoda e sabe que no fundo há algo que não está tão bem.

Não que a psicologia também vai fazer todo mundo ser feliz. A felicidade não é a ausência de mal estar, e sim o trabalho que se cria todos os dias para não viver somente no sofrimento. Isso dá outro texto... quem sabe o próximo diga algo mais sobre isso.