quinta-feira, 9 de julho de 2009

O Direito a Ser Humano


Apesar de ser psicóloga, ou talvez por isso, ando questionando o meio em que mudanças estão sendo efetuadas, ou melhor, forçadas.
Sinto-me mais em um imperativo de fazer as pessoas mudarem do que necessariamente acolher o modo de vida. Acho que toda forma de vida merece ser respeitada, e há impasses na vida em sociedade que irão acontecer. Há formas de punir e gratificar que vão ter que existir. Mas as pessoas ficam numa utopia de uma sociedade que vai ser harmônica, que vai ser batalhadora... Claro que com isso não vamos ficar de braços cruzados vendo o tempo passar. Só que acho fundamental levarmos em conta alguns pontos, como por exemplo o que respeito à vida das pessoas.
Vejo muita política pública tentando mudar a vida das pessoas. Gente, há perdas que vamos ter que lidar, há pessoas que não querem sair do estilo de vida que elas têm. Acho extremamente violento o ato de querer mudar as pessoas. Se algo que aprendi é que cada um nessa vida encontrou um modo de lidar com o difícil que é viver. Sim, viver não é fácil... é um ato que te consome e te convoca a todos os dias a uma árdua tarefa de lidar com os demais e si próprio.
Pelo menos no meu trabalho, quero ser diferente, quero ter um ponto de respeito em relação às vidas. Um ponto que por um lado aceita o modo de vida, e que oferece na outra mão uma chance de escutar o que de si próprio angustia. Alguém para testemunhar aquela história está ali. Uma fala de Miller, psicanalista francês, me marcou muito quando ele diz que o analista provem de tudo aquilo que esse não faz, ou seja, o protagonista da história num consultório não é o psicanalista, e sim a própria pessoa que chega. E se de repente eu chego com minha fome de mudar as pessoas e o modo de vida delas, eu simplesmente ponho ela no lugar de fantoche de um desejo que é meu de mudança para ela. Isso para mim, sim, é a maior violação dos direitos humanos, o direito a ser humano!

Um comentário:

Anônimo disse...

Dei um passadinha rápida. Novo visual e blog reativado.Ainda não li as últimas postagens. Mas desde já, muito bom manter esse espaço vivo!

Fernando