terça-feira, 16 de setembro de 2008

É pela felicidade que sofremos


Sim, é pela felicidade que sofremos. Não nascemos felizes, para falar a verdade nascemos bem infelizes, chorando pela dor de respirar, de encher os pulmões pela primeira vez e ter que agora conseguir o ar por nós mesmos. Não só o ar como o resto das outras coisas. Choramos para termos os alimentos, choramos para termos nossas necessidades satisfeitas e prosseguirmos vivendo. Nascemos sem a felicidade. E por ela lutamos toda a vida, como se tivéssemos a obrigação de sermos felizes. Exigimos da sociedade que nos traga tal façanha. E uso a palavra façanha porque não conheço o objeto ao qual traga a felicidade. Você conhece? Sempre vai ter algo que não encaixa bem, que não dá certo, que faz com que aquilo que acredita ser a felicidade, nos mostre que não é bem o que pensávamos. Não somos feitos para sermos felizes, mas para batalhar para não sofremos tanto. Não é? Porque na realidade, em busca dessa desesperada felicidade nos matamos, entregamos o nosso corpo para que nele as marcas das chagas mostrem o preço que se pagou para enfim ser feliz! E quanto mais chagas mais sofrimento e menos felicidade. Claro, porque quanto mais você paga para ser feliz, mais a felicidade tem que te dar, afinal de contas o quanto você gastou para obtê-la, mais você tem que lucrar. Com isso esquecemos que a felicidade pode se manifestar em momentos, e nunca será FELICIDADE... talvez no máximo um momentinho feliz, que em seguida caí novamente com o preço do sofrimento de algo que nunca se concretiza.
Outra coisa que me ocorre é o conceito de felicidade. O que é felicidade? Estado pelo qual nos sentimos bem? O que é estar bem? Sem sofrimentos? Sem problemas? É poder se sentir pleno? É poder se sentir satisfeito? Então me parece que corremos em busca de algo que se quer conseguimos nomear, esse estado com o qual não precisaríamos lutar, trabalhar, continuar. Sim, porque se se é feliz pronto, pode morrer, não é mesmo? Não consigo imaginar a felicidade em estado pleno. E ai? O que se faria? Aproveitar? Aproveitar seria o que? Não ter que se haver com a conseqüência ou o preço que se paga para ser feliz? Acredito muito mais que nos sacrificamos, damos os nossos corpos para pagar um preço impagável para algo inexistente em si. A felicidade em si não tem consistência alguma, tem tão somente um sentido abstrato, como diria a nossa professora do primário, felicidade tem sentido abstrato, já viu sendo servido felicidade, ou ela andando pela rua? Penso que a felicidade é aquilo que o sonhamos, mas que é inatingível e passamos a vida inteira tentando nos conformar que não nascemos para sermos felizes. Já diria a muitos anos atrás Freud em “Mal estar da civilização” que deveríamos nos acostumar com esse mal estar que sempre se inscreverá, ou seja, dar lugar a isso que impossibilita a os seres humanos a sermos felizes, não podermos ser deuses que tudo podem e tudo têm.
Paradoxalmente se aceitarmos um pouco nossa condição de seres humanos e dar um lugar a não ser tão feliz e respeitar esse tal sofrimento, poderíamos ter mais momentos de felicidade...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Qual é o texto?


Bem, hoje estou sem um assunto digamos... prévio para escrever aqui. Sempre durante a semana me ocorria alguns pensamentos que gosto de desenvolver mais e acabo fazendo o texto do blog. Mas dessa vez nem veio nada em minha cabeça, nada do qual eu me indaguei ou me chamou atenção essa semana. Vivi uma vida normal. Digo normal porque as coisas começam a ser assim, passar desapercebida por nossos olhos, no corre-corre do dia-a-dia. Poderia dizer que literalmente passamos pela vida sem nos afetar pelo que vivemos. Afetar não digo no lado negativo, no sentido de te induzir a algum sentimento, seja de estranheza, alegria, tristeza, raiva, etc. E que assim possa se indagar a respeito e desenvolver conceitos sobre aquilo que viveu. Ah, parece engraçado né? “Desenvolver conceitos sobre o que viveu”, até parece que estamos escrevendo um livro ou defendendo uma tese.
Mas quem sabe a vida não esteja sendo isso, um livro que você escreve, a caneta é você e a tinta é esse tom afetivo que você dá a ela. Tem horas que é verde, azul, vermelho, preto... esses conceitos são escritos por essa tinta que chamamos sentimentos, que nos dá qualidade na vida. E o texto é o que vive o que relata da vivencia. E você, eu, todos nós temos um jeito próprio de escrita, de ir narrando nossa vida. Claro que quando se escreve a própria vida às vezes é bom lermos para os outros para saber o que foi realmente o que escrevemos. Às vezes faltou uma virgula, um ponto... uma palavra que gostaria de acrescentar. Mas como já está escrito com seus passos, o que nos resta é tentar narrar novamente o capitulo com novas palavras, narrar a vida de outra forma.
Gostei um dia da analogia que um professor deu para o que seria a psicoterapia (mais especificamente uma análise), que lá na análise você vai narrar a sua vida, ler o texto da sua vida que você mesmo escreveu e quem sabe dar um título àquilo que você disse. Eu particularmente adorei isso. Porque aliás, quando se aprende a fazer um texto a última coisa que se faz é o quê? Por o título. Oras, não é possível a priori saber o que você vai relatar no texto, isso vai fluindo à medida que vai escrevendo. Então é somente quando termina a escrita e faz a leitura o texto é que então que você pode entender o que escreveu e então falar: esse texto trata-se de tal coisa. O que é uma análise? Uma narração da sua vida para que você possa saber sobre o que está escrevendo nela. E ao final falar, minha vida aborda um pouco sobre “tal aspecto”. Por isso uma biografia nos encanta tanto, ela mostra qual o percurso que um determinado indivíduo percorreu, e sobre o que ele defendeu, viveu, sofreu e morreu.
Qual o seu texto?