domingo, 5 de agosto de 2012

Vi-ver no mundo contemporâneo: entre a mesa de cirurgia e a queda da imagem narcísica

Algumas práticas atuais estão me deixando assustadas com o rumo que o mundo vem tomando. Seja mudar o sexo, seja não aceitar o envelhecimento. Concordo que há crises, um certo mal estar, a mudança, mas daí a fazer práticas no corpo para que isso não aconteça? Para mim que sou psicóloga é no mínimo um indicativo de patologia GRAVE. É um rechaço da realidade e uma afirmação a todo custo de uma imagem narcísica. Não somos o que gostaríamos de ser e isso sempre terá um descompasso e espero que seja assim. O encontro com essa imagem bela de nossos ideais fez com que Narciso se afogasse. Bem, prefiro não ser tudo o que quero e continuar querendo do que me enfiar numas mesas cirúrgicas para colocar minha loucura em prática. Só hoje vi três notícias de loucuras deste tipo: 1) uma mulher chamando de sonho colocar 2000 litros de silicone, tirar duas costelas, lipoaspirar as pernas. Depois disso quase morreu com infecção, sem contar que eu não sei como ela fica em pé, cara! Me digam, isso é sonho? Sério, isso é sonho? Ok, vamos para a próxima. 2) mudança de sexo, uma pessoa vai lá para uma mesa de cirurgia e tira o sexo que ela tem e põe outro, toma mil hormônios porque ELA ACHA que veio errada. Gente, pelo que sei nós não somos máquinas para ter defeitos, nós temos um corpo. Máquinas são coisas que nós inventamos e daí tiramos analogia com elas, mas não somos elas!!!! E uma pessoa vai lá e tira na marra o órgão porque ela não gostou. Esquisito... não me venham com esse discurso de direitos que vou te falar que antes de ter direito temos que ter sanidade mental. 3) os velhos não querem envelhecer, querem para sempre ser novos. Caramba gente, até na época da minha avó era bom envelhecer. Poxa a pessoa mais velha, com mais experiência, respeito, tinha um lugar na sociedade, respeitavam cabelos brancos, os netos deitavam na barriga da vovó e do vovô. Hoje sua avó tem cara de quarentona e seu amigo já pegou! Ah fala sério gente, isso é o fim do mundo e se não for to torcendo para que seja, continuar é vergonhoso! Análise: gente, para mim tudo isso é uma redução enorme na capacidade psíquica de lidar com a realidade. Se por um lado evoluímos em tecnologias e principalmente médicas, por outro retrocedemos e muito no lado psíquico. Parece-me que ele só serviu para endossar nossa parte mais primitiva, egoísta, individualista e louca. Mudar sexo, ficar jovem para sempre e com um corpo construído na mesa de cirurgia? Isso é Frankstein, uma paranóia que a sociedade contemporânea tem vendido e o sistema capitalista rindo de orelha a orelha. Hoje o velho não tem mais beleza, lugar, respeito, viver muito já não serve para nada. Não ser um ideal de beleza (para mim essa mulher não é nem bonita, mas...) já ficou insuportável. E porque você não nasceu com o sexo que você ACHA faz você ter direito de arrancar ele fora? Não temos mais dispositivos psíquicos para lidar com as frustrações, com as quedas das imagens narcísicas, recursos simbólicos que dêem suporte a tristeza de não ser tudo, sempre, do jeito que se quer. Querer gente é para te por para frente, para lutar e não para fixar você numa imagem do que você gostaria de ser, como se isso fosse fazer de você uma grande pessoa, uma pessoa melhor ou o escambal a fora. A sociedade está cada vez mais paranóica, individualista, mercenária, capitalista. Ser psicóloga hoje é trabalho de formiguinha. E olha que tem psicólogo ajudando o povo a enlouquecer, achando que essa barbaridade é cabível que a pessoa tem direito de ser feliz. Felicidade nunca esteve numa imagem, se fosse assim tira uma foto e passe o resto da vida olhando para ela. Não é o corpo que deixa feliz, é como se lida com aquela parte da vida que não coube, aquilo que ficou de fora. Bom, espero que este texto possa servir para reflexão e ajudar a disseminar para as pessoas que esse tipo de prática vai muito mais pela via da morte do que pela via de uma vida. Agradeço àqueles que tiverem esta prática! Valeu!

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O risco de ser uma mulher

Mais uma confissão do que um texto de opinião ou de teoria. Conversando com colegas e falando sobre a questão do feminino, a diferença do masculino me veio na cabeça essa questão que é vivida por nós mulheres. Bem, ouvi que a mulher independente apesar de chegar a esse ponto parece ter um ar de que quando consegue uma independência financeira e é a mulher trabalhadora, muitas vezes vive um “fracasso” amoroso*. Ou seja, apesar de ter conseguido outras coisas, não conseguiu o amor, ou melhor, ser amada e amar. Feministas defenderiam que isso é um insulto e que não precisamos deles. Não vou entrar no mérito, mas o que me veio à cabeça é que não é simplesmente provar que podemos mais. Isso porque se arriscar a ser mulher é difícil. É arriscado sim! Abrir mão de ser alguma coisa, de correr atrás, de ser trabalhadora, de ser mãe, de ser esposa, de ser amiga, de ser estudante e tudo o mais que o mundo oferece... sempre vai ficar um pedaço do nosso ser incompleto. Tentamos dizer de nós, de olhar para o espelho e nos definir. Já viu mulher se definindo? Ou ela nunca termina, ou quando tem a resposta na ponta da língua já tem alguém falando: “metida, ela acredita que é isso tudo mesmo?!” Na realidade nós não sabemos, e tudo o que a gente quer é que nossa relação amorosa pelo menos aponte o caminho, e isso é também com os demais campos. E é tão engraçado para não dizer irônico, quando nos falam: “você poderia ser menos” – e daí tirem todos os adjetivos – nervosa, gastadeira, falar menos, enfim ser menos. E ai nos dizem, nesse menos é que é possível ser algo. Quê? Você ta me oferecendo para eu tentar deixar de ser um pouco, sendo que até hoje eu não me sinto alguém (no sentido de conseguir se afirmar, numa crença sólida). É um risco ser mulher de fato. É de uma fragilidade e sofrimento tamanho. Passa por uma conclusão dolorosa de se fazer e mais uma escolha de perigo. As vezes vem na cabeça “será mesmo que compensa ser feminina?”, acho que talvez eu ficaria melhor sendo essa pseudo. Hoje na aula escutei sobre a mulher e essa ligação que ela tem com o amor, essa necessidade que ela tem de se relacionar com o amor. Isso ficou na minha cabeça, será que tem a ver com o fato de que o amor tem vários nomes e isso a apaziguaria? Que essa relação consegue nomear e dar uma segurança para a identidade de uma mulher? Bom, das duas uma ou nós teremos que bancar algo do pseudo feminino para suportar esse risco de não ser, ou somos verdadeiras porque ninguém de fato é, e vive numa ilusão. Bem, digam alguma coisa para apaziguar a tensão a conclusão de não ser por inteiro! * Digo fracasso amoroso entre aspas porque se não for esse fracasso, será o de não trabalhar, o de não estudar, o de não ter qualquer outra coisa.

domingo, 27 de maio de 2012

O mundo não será destruido por aqueles são maus, mas por aqueles que olham e não fazem nada. – Albert Einstein.

Essa frase me marcou bastante, que acho que ela retrata bem nossa realidade e uma postura que eu abomino: conivência. Deixar quem erra errar é comodismo, é fazer com que seja abolida os espaços de diálogos, discutir o que é bom e ruim, é compactuar com a mesmisse e não poder reclamar do mundo em que se vive. Hoje em dia temos os revoltados e os conformados. Duas posturas que não levam ninguém a nada, se bem que o primeiro pode levar para o hospital dependendo do tamanho da ação. Eu prefiro estar no meu leito de morte pensando que passei uma vida lutando do que falar que passei uma vida sofrendo. Mas não sei se outros pensam assim. É uma economia de existência de vida que serve para que? Evitar a angústia no sentido existencial da palavra é deixar a vida passar diante de você. O ruim dos dias de hoje é o tal do individualismo. Lá no mestrado vi uma frase no banheiro: “A água que é sua também é de todos, preserve-a. ” Caramba, eu queria ir lá no publicitário que fez isso, mas ainda não descobri o setor. Sério, pensa se nos dias de hoje alguém se preocupa com o todo? Patavinas, eu escreveria o contrário: “A água que todos usam também é sua, preserve-a!” Ah ai eu ia querer ver o povo pensando duas vezes antes de escovar os dentes com a torneira ligada. Assim é com a política, com o mundo, meio ambiente, etc. A impressão de que a sociedade atual tem é de que: o que é de todos não é de ninguém, então faço o que eu quero. É justamente o contrário: o que é de todos também é meu e se eu fizer o que eu quero e o outro também ta todo mundo naufragado! Bom fica ai a reflexão, a falta de atitudes políticas (política no sentido original e não da bagunça que se faz em Brasília) dos cidadãos é que destroem o mundo. O pior que é se a gente deixa não dá para reclamar.

Para sempre…

Quer coisa mais claustrofóbica do que isso? Sim porque as pessoas falam: “Te amo para sempre!”, “Para sempre vamos ficar juntos!”, e blá blá, blá. Eu sinceramente tenho repugnância ao para sempre. Me sinto assim “oh, se você mudar já era... se alguma coisa acontecer você vai ter que continuar.” Imagina nisso: (com aquele voz bem grave de propaganda) “Você vai comer seu prato predileto pra sempre!”, não sei você mas eu já nem quero comer comida japonesa por uns bons meses! Ou então “você vai ficar de férias paara sempre!" Essa é mais difícil, mas ainda assim é porque estamos trabalhando que dá essa impressão de que é a solução do mundo. Quem está desempregado fala que isso é o suplicio. Ah, essa é boa: “viver pra sempre!" Nóoooooooooooooooo, vou ficando cada vez mais velha, caquética, cada vez mais atrasada (é porque com as tecnologias uma cirança de 3 anos sabe mais que um velho). E olhando sempre a minha cara, que só com muito dinheiro ficará intacta, doida para descansar. Enfim, o pra sempre dá uma sensação de que não há novidade, possibilidade, mudança... Hung! Credo! Tenho algumas idéias que permeiam essa coisa do pra sempre. Adoramos aquele momento e a intensidade é tamanha que fica difícil caber naquele momento e então o que fazemos? Jogamos para o futuro. Que bonito hein? Ai a gente se compromete enfiando o futuro que a Deus pertence (e a nós também, vale lembrar!) por conta que não sabemos bem fazer com a felicidade do momento. Além de isso vira um compromisso, é porque ai se é para sempre estamos decidindo o futuro. Isso dá um problema, por que como se explica que tudo mudou ou que simplesmente não saberemos o dia de amanhã? Concordo com Drumond “que seja eterno enquanto dure” e que fique bem claro que é enquanto durar!!!! Isso é o combinado de que acreditamos em eternidade, mas no fundo sabemos que o que faz durar não é o sentimento de eternidade e sim o comprometimento diante do que está em questão. Pensa, as coisas na vida mudam e de repente se a vida acredita no para sempre que nós falamos estamos perdidos. Amanhã eu já não quero mais essa vida, mas como eu falei que queria ela pra sempre, pronto f****. O difícil é acreditar na finitude. Poxa essa mordomia toda de férias vai acabar no final da semana..., ou que um dia você pode não mais amar o amor da sua vida porque vocês dois tomaram rumos diferentes, ou ainda que se não semear hoje a felicidade não estará ao seu lado amanhã. Ruim, né? Mas veja pelo outro lado, você pode mudar de idéia, refazer o que ficou ruim, pode ainda lutar para que o amanhã esteja melhor do que hoje e VOCÊ pode fazer algo, pode lutar! Tenho a impressão de que é melhor viver na incerteza do amanhã e na batalha diária do que cristalizar um hoje e decepcionar com o imperfeito do futuro.