sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Que é ser responsável?




Um assunto que tem permeado minha cabeça nos últimos tempos é o tema da responsabilidade. Bem, como vocês viram no texto anterior tangencio essa questão, sem aprofundar sobre o tema da responsabilidade e sim falando mais da originalidade de um texto em primeira pessoa.
Porém, não há como falar em subjetividade sem falar de responsabilidade. Esse anda sendo para mim um aspecto central da discussão. Subjetivar é você apreender o que está a sua volta, porém não como um aspirador que suga o que está fora, e sim que capta o de fora de acordo com elementos que se tem dentro. Ainda não li (mas com certeza irei ler) um capítulo de Lacan que fala da banda de moebius, essa da figura ao lado. Isso quer dizer que não há externo nem interno, quer dizer que o que está dentro está fora e o que está fora está dentro. Assim é nosso contato com o mundo, é via elementos internos que conseguimos ter um laço social e isso se integra na realidade psíquica. Por isso, cada cabeça uma sentença, apesar de os elementos serem os mesmos.
Recapitulando sobre a responsabilidade e subjetividade, temos então um ato de resposta frente ao que é nosso. E responsabilidade é o ato de responder frente há algo que nos exige alguma atitude. E como é que respondemos? Respondemos com os elementos que temos internamente, e é isso que temos que fazer, ser responsável por aquilo que fazemos questão (no sentido de perguntas e naquilo que queremos) e também no sentido de responder pelos atos que fizemos. Ocasiões que me arrepiam é quando há algum tipo de situação e as demais pessoas falam: “ah fulano fez isso porque é mal caráter”. Poxa, uma coisa que não entra na minha cabeça é por que as pessoas acreditam que essa resposta que ela deu tem a ver com o que a outra pessoa fez? Quem são essas pessoas que respondem pelos outros, por um ato que não lhe é próprio? Se está difícil responder pelo o que já é nosso, daremos conta de responder pelos atos dos outros? Ah faça-me o favor. Uma frase que sempre utilizo: ache menos e pergunte mais. Isso porque em toda ação há uma lógica implícita, e essa lógica diz de um funcionamento psíquico, quem tem que responder pelos atos é quem cometeu o ato.
Logo, a responsabilidade é um ato subjetivo... fazer uma análise é se tornar responsável por aquilo que se faz e fala. Realmente são poucos os que têm coragem de assumir suas próprias rédeas. Mais fácil é pedir para que o outro responda e continuar na re-clamação.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Originalidade de um texto em 1ª pessoa




A norma manda que o texto culto seja escrito em terceira pessoa do singular (acredita-se, sabe-se), e muito raramente na terceira pessoa do plural (sabemos, acreditamos). Porém, isso descaracteriza totalmente o belo que é ser autor de seu próprio texto. Na realidade isso é tão somente para garantir a tão sonhada neutralidade científica, só sonhada, porque nunca a vi na vida real.
Estava lendo um livro sobre a Reforma Sanitária Brasileira, e entre textos enjoativos e outros cansativos, encontrei um que deu prazer de ler. Um que narrava em primeira pessoa, um texto belíssimo que fala da mesma coisa que os outros, mas com a originalidade que é uma redação que fala em primeira pessoa. É uma produção original, algo que ele está falando e respondendo pelo seu ato de redigir um texto. Não “acha-se” ou “sabe-se”, é “eu sei, eu acho”. Um texto que nomeia a si próprio como autor das palavras ali escritas é um ato de responsabilidade, um ato que responde a uma questão que foi formulada pelo próprio sujeito.
Não se tem neutralidade científica e nem nenhum tipo de neutralidade. “Toda a vista é a vista de um ponto” já dizia Leonardo Boff se não me engano. Logo, toda opinião ou conceituação de determinada situação vai levar consigo o seu mais intimo que é a sua percepção da situação. Só que... as pessoas degradam isso, acreditam que isso é pejorativo. Muito pelo contrário, já que a realidade é algo que ninguém toca, mas sim todo mundo cria, vamos pelo menos ser responsáveis por aquilo que proferimos.
Nesse texto por exemplo, o autor ( Gastão Wagner de Souza Campos) pede desculpas, permitam-me citar ele, já que é para ser original: “E goiano que sou, vou logo repetindo como meus antepassados: - desculpem-me, qualquer coisa... qualquer coisa. Afinal, as coisas não são controláveis, ninguém as controla, nem os planejadores mais estratégicos. Em nenhuma situação. Nos laboratórios e em programas de computadores, talvez, quem sabe, se invente aparência de controle que nos apaziguaria. Já na vida real, é melhor desculpar-se, em princípio, pelo descontrole.”[1]
É muito mais bonito, espontâneo quando alguém traz em seu texto uma visão que é dele, e a primeira pessoa na redação evidencia esse tipo de leitura (e de escrita também). Bom, a finalidade do texto foi a de mostrar que nossos textos são parte de nós, parte que podemos eternizar algo de nós que somos tão finitos. Mais uma vez proponho a entrada do subjetivo na ciência que se acha tão objetiva, na realidade acredito que talvez a única coisa que ela não seja é original.
[1] CAMPOS,G.W.S, Análise crítica das contribuições da saúde coletiva a organização das práticas de saúde no SUS. In: FLEURY, Saúde e Democracia – A Luta do CEBES, São Paulo: Lemos Editora, 1997