domingo, 31 de agosto de 2008

O que um não esconde?


Falei no post passado sobre o saber da falta. Neste eu gostaria de falar mais sobre a falta. Faltou falar no outro (rsrs). Bom, acho que é necessário examinar bem o que é uma falta e o que quero dizer sobre esse saber advindo da falta. A falta não é no campo do que não se tem... não somente isso. Porque não ter é inerente ao homem como já o dissemos da vez passada. A gente nasce sem nada, se não formos cuidados morreríamos. Certo. Mas quero aprofundar nas faltas que não nos damos conta. Por exemplo: você quer um carro. Aí você fala: me falta um carro. Não, não é bem isso. É você não dar conta de andar a pé, de ter que acordar cedo, para pegar ônibus, de ver todo mundo com carro, dessa falta que digo. É a questão que um velho texto fala: pedi a Deus força e ele me deu mais trabalho; Pedi a Deus solução, ele me deu mais problema. Ou seja, a sua falta, ali onde você se esbarra com algo que te causa mal estar e se pergunta “e agora?”. A falta é daquilo que você não dá conta de viver sem, e que ao mesmo tempo vive. Não sei se me expressei bem, mas a falta não são dos objetos externos, mas aquilo que demonstra o seu limite e as suas carências.
Estive observando o quanto de “nãos” que falamos. Tente evitar usar a palavra “não”. Não consegui fazer aquilo = Fui incapaz de fazer aquilo. Não gostei do seu presente= Me frustrei com o presente. Veja como muda! É engraçado como a palavra de negação camufla o que realmente é! Fiquei impressionada com isso! O “não” coloca limites, mas evita o nosso encontro com as limitações. E quando há uma afirmativa, vem algo seu, algo de seus limites, coloca seus sentimentos e seus anseios. Concordo que traz muito mais angústia, mas precisamos dessa angústia para descobrir nossas faltas e reinventar soluções para nós mesmos. Estou parecendo meio que auto-ajuda, mas isso não é regra nem solução. É antes de tudo um bom exercício para tentarmos saber do que nos é particular, das nossas limitações e das nossas forças para criar, inventar meios de lidar com esse problema nosso que é a impossibilidade de poder tudo. Precisamos de querer saber sobre isso que nos põe limite e simultaneamente nos faz caminhar.

2 comentários:

Anônimo disse...

A maior Falta, é a Falta do sonhar. Nos sonhos nunca há não, nunca há nunca. Sonhar e "lutar", objetivando além do desejo a realizaçao, isso sim conduz às conquistas. E claro, ir de encontro às "dificuldades" que o caminhar nos impõe, visto que somente assim é possivel as realizações.
Seus artigos estão sempre trazendo momentos de reflexão, e isso é ótimo.
Parabens!

Anônimo disse...

Ótimo, concordo com praticamente tudo que disse sobre a falta (prefiro o termo castração, mas tudo bem). Quanto ao "não", porém, minhas críticas são mais duras. Quando você substituiu a negativa por uma afirmativa, mudou sutilmente o sentido do que tinha dito primeiro. E não acho que o não camufle o sentido, uma negativa é uma forma de se afirmar algo também, por contraditório que isso pareça. Mas concordo com você que as negativas são por vezes usadas como escudos protetores contra limitações. Pra terminar, só uma lembrança do nosso amigo Freud que usava isso pra interpretar sonhos, mas servem pra interpretar conteúdos mais gerais também: ignore as negativas, as dúvidas, as imprecisões, retire tudo e fica uma afirmação; esse é o conteúdo central do que é dito, o resto é distorção.