domingo, 25 de julho de 2010

Conhecimento é sempre auto



Não há outra forma de conhecimento se não for pelo autoconhecimento. Isso porque qualquer tipo de conhecimento passa pela lente de como vemos o mundo. É ilusório achar que teremos um conhecimento dessubjetivado. O que é engraçado quando ouvimos a palavra “autoconhecimento” é de que se pensamos em conhecer si mesmo, é porque tem algo que não conhecemos, algo que nos é alheio mas que ainda assim é nosso. Acredito que aí reside nosso verdadeiro poder-saber, o conhecimento passa necessariamente pelo subjetivo e com relação a isso não há nada de errado. A grande questão é que se não nos atemos ao que é nosso e delegamos as nossas faltas às pessoas ao redor, temos aí um grande problema.
Agora o interessante é que o autoconhecimento sempre passa pelo hetero conhecimento, se assim posso dizer. Isso porque nós somos seres que dependem dos outros para viver, ou sobreviver e quando nós falamos de nós mesmos automaticamente falamos dos outros, dessa relação. Toda a nossa questão reside aí, que sempre quando falamos dos outros estamos falando de nossa relação com eles e não do outro mesmo. Trabalhar o nosso ser é dar tratamento ao nosso relacionamento com os demais.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Luxo e lixo: duas faces da mesma moeda


Vamos analisar a história. Essa é uma matéria que eu adorava na época escolar, mas é uma pena só aprendermos a raciocinar só na faculdade, e pior ainda aprendermos a fazer conexões só depois da faculdade!
Vamos lá, o Colonialismo e as grandes navegações resultaram em desbravamento de novas terras que foram feitas para exploraçao de materias primas para enriquecer os países europeus. Havia um discurso bonito em que servia tão somente para camuflar o que realmente se queria: minérios para fazer sua riqueza em cima de quem era pobre, ou sequer se importava com riquesa. A cultura indígena, o saber construído por um povo, uma realidade criada, tudo isso foi sobreposto pela cultura européia. Homens estrangeiros vieram, fizeram dos nossos homens escravos e como se não bastasse, matavam e ainda traziam mais homens de outras terras e culturas para explorar, retirar tudo o que a terra tinha a oferecer. Enfim, matansa, cureldade, cobiça pela riqueza. Afinal de contas, não havia mais como explorar a Europa, que já tinha sido consumida e chegado a um ponto de partir para outros lugares, dominar povos e fazer riqueza. Certo, pegar todos os minérios extraido das terras e alavancar o desenvolvimento.
Hoje nós temos a Globalização, que assim como o colonialismo sobrepõe uma massa cultural que tem que ser aceita de forma acrítica e que exclui o saber cultural. Mas o que quero frisar aqui é o lixo. A cultura do lixo, que como afima Baumam em seu livro “Vidas Desperdiçadas”, o que temos hoje é um mundo que não tem mais para onde expandir e o interessante é que os mesmos locais que antes eram locais para serem explorados, hoje são locais destinados a depósitos de lixo. Não é somente lixo em matéria. Claro que ao afirmar isso todos se lembram até pouco tempo que um container francês com lixos veio parar aqui no Brasil, mas por mero acidente, não é mesmo? Na realidade, era para estar em outro local, pois na França não há locais para o lixo. Porém, vale lembrar que o lixo é tudo aquilo que é negligenciado, excretado e que não tem valor utilitário, o que Baumam chama de refugo humano. É... os homens também são como lixos de um país pobre para um país rico, eis o terrorismo!
Quero apontar que o discurso que os países usam para dominar os demais que sempre serão pobres, é o de que eles têm que consumir o que nos países ricos se consome, e que aos poucos irão um dia chegar a ser países desenvolvidos. MENTIRA, não irão. Hoje, países pobres continuam pobres porque são destinados a serem consumidores e também depositários de lixo que se produz em grande escala, em países que se dizem desenvolvidos. E quanto mais produção mais lixo, e quanto mais lixo menos espaço. O jeito é acabar com o excedente, e é claro que excedentes sempre são os que estão à margem do processo globalizado.
Concluindo, num primeiro momento se extrai e retira tudo o que pode. No segundo momento, deposita tudo o que sobrou de lixo dessa extração. O problema é do lixo ou de quem o produz?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O homem não existe: Subvertendo Lacan


Lacan dizia “a mulher não existe”, sim há todo um arcabouço teórico para dizer sobre isso. E mulheres não se assustem!, essa frase tem muito relação com a questão inconsciente, e em toda obra lacaniana a questão da mulher é de alguma forma privilegiada.
Digo-lhes, porém, contrariando Lacan, que o homem não existe. Pois, a referência do que é ser um homem não há. Por mais que a sociedade diga, o pai transmita, o próprio sujeito inventa, toda vez que ele se encontra com a mulher (é... essa mesma que não existe, ou que ele não entende) o sujeito masculino se depara com seu ponto de não ser (no sentido de existir). Tudo o que inventaram de resposta para o macho não diz dele como homem, pode até dizer de outros homens, mas não dele! É interessante que esse é o ponto crucial que os homens se vêem, mas que também não querem mostrar jamais. Ali onde eles não sabem o que fazer com uma mulher, o ponto onde as técnicas, conselhos, saberes faltam é o próprio horror.
A mulher é o próprio horror encarnado em forma de gente. Daí fazer esse horror virar amor vai um longo percurso... Entretanto, esse horror da mulher traz em si também o mistério, já que apesar de ele se deparar com seu “não saber” do que fazer com essa figura na sua frente, há também algo que o fascina, que ele não saber bem delimitar o quê, mas que o encanta.
Difícil é para a mulher que quando vê o homem em sua frente ACREDITA que há um homem, mas, como diz Leoni “perto de uma mulher são só garotos". Nesse momento as mulheres reivindicam: “onde está o homem?”. Elas no seu papel mais conhecido vão reclamar que foram enganadas, que eles mentiram, não prestam, etc.
Talvez, e aí é uma opinião minha, a única coisa que existe é a mulher. Esse ponto que todos (seja homem ou mulher) se deparam com uma dúvida, um não saber que é feminino: “o que eu faço?”. O homem enquanto uma tentativa de ser homem, e a mulher... bom isso nem Freud conseguiu decifrar. Quem sabe o que ela seja é o seu desejo? (Em todos os possíveis sentido!)

domingo, 8 de novembro de 2009

A saúde sob foco


Quem está no campo da saúde vem percebendo que a tecnologia e a globalização vêm mudando não só o cenário do mercado, mas também conseguiu chegar nos hospitais e consultórios relacionados à saúde.
A medicina para quem está acompanhando, já não é mais a mesma medicina que tínhamos antigamente. Com a falta de recursos tínhamos médicos que nos perguntavam de toda nossa vida, vida da família, apalpava-nos todo, olhava nossos olhos, abríamos a garganta e por ai vai. Porém o que temos hoje é uma medicina que não vive sem aparelhos, sem os exames. É claro que eles são muito importantes, eles acessam o que até então não era acessível. Hoje você chega a um consultório médico e o que recebemos é uma bateria de exames para fazer, e saímos de lá sem saber nada. O médico mal olha nos nossos olhos, não sabe nosso nome se bobear nem o mal que estamos sentindo.
A medicina virou uma técnica laboratorial, e que como ouvi um médico mais antigo dizendo, “de que adianta esse tanto de exames sofisticados se não temos profissionais para saber interpretá-los? É como uma excelente arma na mão de um péssimo atirador, e se você coloca um 38 na mão de um cara bom mesmo, faz efeito até melhor.” É a medicina? Não só ela, mas o efeito do mundo moderno nas relações humanas. A tecnologia deve servir para nos auxiliar, não para nos substituir! A capacidade hoje em dia de raciocinar, de fazer uma análise crítica, de uma consulta aprofundada está cada vez mais a margem.
Faço parte de um projeto de pesquisa no Hospital das Clínicas de BH, lá os médicos preceptores estão tentando resgatar esse ponto que a saúde vem perdendo de informação e deixando nas mãos de aparelhos. Essa questão da fragmentação, a especialização me preocupa profundamente. Sou a favor sim de uma especialização, mas não dessa de que se eu de pés, se o problema for no dedinho mindinho já não entendo. Uai! Essa fragmentação que está nos diversos campos da nossa sociedade.
Bom, esse texto teve a intenção somente de alertar para esse perigo que vem acontecendo na nossa sociedade e é preciso ficarmos em alerta para refletirmos que tipo de pessoas estamos sendo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Você sabe o que você acerta?


Eu imaginava até então que tudo o que as pessoas faziam era na tentativa de acertar. Mas hoje dei uma guinada e pensei: acertar o quê? Nem sempre é para que as coisas fiquem bem no final, ou também poderíamos nos perguntar o que a pessoa está chamando de bem. Enfim, o que se busca acertar nas nossas ações?
Não acredito que seja um final feliz. Na realidade o que as pessoas mais fazem é tornar suas vidas mais complicadas, já reparou? Para e pensa um minuto. A pergunta de o que se quer acertar ainda persiste... o alvo é sempre um ganho secundário que se tem com o sofrimento. É triste, mas é certo. Nossas ações, tanto as mais bem intencionadas quanto as mal intencionadas, visam algo além de tentar fazer um final feliz.
É desse ganho secundário é que temos que nos ater, questionar e estranhar. Ele é tão rasteiro que passa sem a gente perceber. Só nos damos conta quando nos deparamos com a conseqüência dos nossos atos. Geralmente isso vem acompanhado de muita perda...é preciso ficarmos atentos a isso.
Bom, não dá para falar mais a respeito disso não, que esse é ponto mais subjetivo e que cada um vai se queixar numa análise. Lá sim é o lugar de se queixar. Porem para não perder a viagem, já que instiguei até aqui vou completar com uma história provavelmente familiar e aposto que ninguém nunca havia pensado nisso.
A história de Édipo Rei todos conhecem, não é mesmo? O pai sabe pelo oráculo que não pode ter filhos pois esse filho o matará. Mesmo assim o Rei tem um filho e manda matar. Não matam e doam a pequena criança para outras pessoas criarem. Édipo é avisado do porque era doado, pois mataria seu pai. Édipo cresce e vai para a guerra, SEM SABER, mata seu pai e fica com a sua mãe. O mais importante dessa historia vocês diriam: é que ele gosta da mãe e quer matar o pai. Errado! Bacana, né? O que Jairo Gerbase aponta no seu texto é que o bacana da psicanálise não foi o complexo de Édipo, e sim foi que Édipo fez tudo isso SEM NADA SABER.A descoberta da psicanálise se situa aí, naquilo que você faz sem saber que está fazendo. Ali onde você acha que não tem nada com isso, é onde está mais atolado. Fala se isso não é lindo e instigador? Retomamos a pergunta: o que você quer acertar (e completando), sem saber?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Que é ser responsável?




Um assunto que tem permeado minha cabeça nos últimos tempos é o tema da responsabilidade. Bem, como vocês viram no texto anterior tangencio essa questão, sem aprofundar sobre o tema da responsabilidade e sim falando mais da originalidade de um texto em primeira pessoa.
Porém, não há como falar em subjetividade sem falar de responsabilidade. Esse anda sendo para mim um aspecto central da discussão. Subjetivar é você apreender o que está a sua volta, porém não como um aspirador que suga o que está fora, e sim que capta o de fora de acordo com elementos que se tem dentro. Ainda não li (mas com certeza irei ler) um capítulo de Lacan que fala da banda de moebius, essa da figura ao lado. Isso quer dizer que não há externo nem interno, quer dizer que o que está dentro está fora e o que está fora está dentro. Assim é nosso contato com o mundo, é via elementos internos que conseguimos ter um laço social e isso se integra na realidade psíquica. Por isso, cada cabeça uma sentença, apesar de os elementos serem os mesmos.
Recapitulando sobre a responsabilidade e subjetividade, temos então um ato de resposta frente ao que é nosso. E responsabilidade é o ato de responder frente há algo que nos exige alguma atitude. E como é que respondemos? Respondemos com os elementos que temos internamente, e é isso que temos que fazer, ser responsável por aquilo que fazemos questão (no sentido de perguntas e naquilo que queremos) e também no sentido de responder pelos atos que fizemos. Ocasiões que me arrepiam é quando há algum tipo de situação e as demais pessoas falam: “ah fulano fez isso porque é mal caráter”. Poxa, uma coisa que não entra na minha cabeça é por que as pessoas acreditam que essa resposta que ela deu tem a ver com o que a outra pessoa fez? Quem são essas pessoas que respondem pelos outros, por um ato que não lhe é próprio? Se está difícil responder pelo o que já é nosso, daremos conta de responder pelos atos dos outros? Ah faça-me o favor. Uma frase que sempre utilizo: ache menos e pergunte mais. Isso porque em toda ação há uma lógica implícita, e essa lógica diz de um funcionamento psíquico, quem tem que responder pelos atos é quem cometeu o ato.
Logo, a responsabilidade é um ato subjetivo... fazer uma análise é se tornar responsável por aquilo que se faz e fala. Realmente são poucos os que têm coragem de assumir suas próprias rédeas. Mais fácil é pedir para que o outro responda e continuar na re-clamação.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Originalidade de um texto em 1ª pessoa




A norma manda que o texto culto seja escrito em terceira pessoa do singular (acredita-se, sabe-se), e muito raramente na terceira pessoa do plural (sabemos, acreditamos). Porém, isso descaracteriza totalmente o belo que é ser autor de seu próprio texto. Na realidade isso é tão somente para garantir a tão sonhada neutralidade científica, só sonhada, porque nunca a vi na vida real.
Estava lendo um livro sobre a Reforma Sanitária Brasileira, e entre textos enjoativos e outros cansativos, encontrei um que deu prazer de ler. Um que narrava em primeira pessoa, um texto belíssimo que fala da mesma coisa que os outros, mas com a originalidade que é uma redação que fala em primeira pessoa. É uma produção original, algo que ele está falando e respondendo pelo seu ato de redigir um texto. Não “acha-se” ou “sabe-se”, é “eu sei, eu acho”. Um texto que nomeia a si próprio como autor das palavras ali escritas é um ato de responsabilidade, um ato que responde a uma questão que foi formulada pelo próprio sujeito.
Não se tem neutralidade científica e nem nenhum tipo de neutralidade. “Toda a vista é a vista de um ponto” já dizia Leonardo Boff se não me engano. Logo, toda opinião ou conceituação de determinada situação vai levar consigo o seu mais intimo que é a sua percepção da situação. Só que... as pessoas degradam isso, acreditam que isso é pejorativo. Muito pelo contrário, já que a realidade é algo que ninguém toca, mas sim todo mundo cria, vamos pelo menos ser responsáveis por aquilo que proferimos.
Nesse texto por exemplo, o autor ( Gastão Wagner de Souza Campos) pede desculpas, permitam-me citar ele, já que é para ser original: “E goiano que sou, vou logo repetindo como meus antepassados: - desculpem-me, qualquer coisa... qualquer coisa. Afinal, as coisas não são controláveis, ninguém as controla, nem os planejadores mais estratégicos. Em nenhuma situação. Nos laboratórios e em programas de computadores, talvez, quem sabe, se invente aparência de controle que nos apaziguaria. Já na vida real, é melhor desculpar-se, em princípio, pelo descontrole.”[1]
É muito mais bonito, espontâneo quando alguém traz em seu texto uma visão que é dele, e a primeira pessoa na redação evidencia esse tipo de leitura (e de escrita também). Bom, a finalidade do texto foi a de mostrar que nossos textos são parte de nós, parte que podemos eternizar algo de nós que somos tão finitos. Mais uma vez proponho a entrada do subjetivo na ciência que se acha tão objetiva, na realidade acredito que talvez a única coisa que ela não seja é original.
[1] CAMPOS,G.W.S, Análise crítica das contribuições da saúde coletiva a organização das práticas de saúde no SUS. In: FLEURY, Saúde e Democracia – A Luta do CEBES, São Paulo: Lemos Editora, 1997