domingo, 8 de novembro de 2009

A saúde sob foco


Quem está no campo da saúde vem percebendo que a tecnologia e a globalização vêm mudando não só o cenário do mercado, mas também conseguiu chegar nos hospitais e consultórios relacionados à saúde.
A medicina para quem está acompanhando, já não é mais a mesma medicina que tínhamos antigamente. Com a falta de recursos tínhamos médicos que nos perguntavam de toda nossa vida, vida da família, apalpava-nos todo, olhava nossos olhos, abríamos a garganta e por ai vai. Porém o que temos hoje é uma medicina que não vive sem aparelhos, sem os exames. É claro que eles são muito importantes, eles acessam o que até então não era acessível. Hoje você chega a um consultório médico e o que recebemos é uma bateria de exames para fazer, e saímos de lá sem saber nada. O médico mal olha nos nossos olhos, não sabe nosso nome se bobear nem o mal que estamos sentindo.
A medicina virou uma técnica laboratorial, e que como ouvi um médico mais antigo dizendo, “de que adianta esse tanto de exames sofisticados se não temos profissionais para saber interpretá-los? É como uma excelente arma na mão de um péssimo atirador, e se você coloca um 38 na mão de um cara bom mesmo, faz efeito até melhor.” É a medicina? Não só ela, mas o efeito do mundo moderno nas relações humanas. A tecnologia deve servir para nos auxiliar, não para nos substituir! A capacidade hoje em dia de raciocinar, de fazer uma análise crítica, de uma consulta aprofundada está cada vez mais a margem.
Faço parte de um projeto de pesquisa no Hospital das Clínicas de BH, lá os médicos preceptores estão tentando resgatar esse ponto que a saúde vem perdendo de informação e deixando nas mãos de aparelhos. Essa questão da fragmentação, a especialização me preocupa profundamente. Sou a favor sim de uma especialização, mas não dessa de que se eu de pés, se o problema for no dedinho mindinho já não entendo. Uai! Essa fragmentação que está nos diversos campos da nossa sociedade.
Bom, esse texto teve a intenção somente de alertar para esse perigo que vem acontecendo na nossa sociedade e é preciso ficarmos em alerta para refletirmos que tipo de pessoas estamos sendo.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Você sabe o que você acerta?


Eu imaginava até então que tudo o que as pessoas faziam era na tentativa de acertar. Mas hoje dei uma guinada e pensei: acertar o quê? Nem sempre é para que as coisas fiquem bem no final, ou também poderíamos nos perguntar o que a pessoa está chamando de bem. Enfim, o que se busca acertar nas nossas ações?
Não acredito que seja um final feliz. Na realidade o que as pessoas mais fazem é tornar suas vidas mais complicadas, já reparou? Para e pensa um minuto. A pergunta de o que se quer acertar ainda persiste... o alvo é sempre um ganho secundário que se tem com o sofrimento. É triste, mas é certo. Nossas ações, tanto as mais bem intencionadas quanto as mal intencionadas, visam algo além de tentar fazer um final feliz.
É desse ganho secundário é que temos que nos ater, questionar e estranhar. Ele é tão rasteiro que passa sem a gente perceber. Só nos damos conta quando nos deparamos com a conseqüência dos nossos atos. Geralmente isso vem acompanhado de muita perda...é preciso ficarmos atentos a isso.
Bom, não dá para falar mais a respeito disso não, que esse é ponto mais subjetivo e que cada um vai se queixar numa análise. Lá sim é o lugar de se queixar. Porem para não perder a viagem, já que instiguei até aqui vou completar com uma história provavelmente familiar e aposto que ninguém nunca havia pensado nisso.
A história de Édipo Rei todos conhecem, não é mesmo? O pai sabe pelo oráculo que não pode ter filhos pois esse filho o matará. Mesmo assim o Rei tem um filho e manda matar. Não matam e doam a pequena criança para outras pessoas criarem. Édipo é avisado do porque era doado, pois mataria seu pai. Édipo cresce e vai para a guerra, SEM SABER, mata seu pai e fica com a sua mãe. O mais importante dessa historia vocês diriam: é que ele gosta da mãe e quer matar o pai. Errado! Bacana, né? O que Jairo Gerbase aponta no seu texto é que o bacana da psicanálise não foi o complexo de Édipo, e sim foi que Édipo fez tudo isso SEM NADA SABER.A descoberta da psicanálise se situa aí, naquilo que você faz sem saber que está fazendo. Ali onde você acha que não tem nada com isso, é onde está mais atolado. Fala se isso não é lindo e instigador? Retomamos a pergunta: o que você quer acertar (e completando), sem saber?

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O Que é ser responsável?




Um assunto que tem permeado minha cabeça nos últimos tempos é o tema da responsabilidade. Bem, como vocês viram no texto anterior tangencio essa questão, sem aprofundar sobre o tema da responsabilidade e sim falando mais da originalidade de um texto em primeira pessoa.
Porém, não há como falar em subjetividade sem falar de responsabilidade. Esse anda sendo para mim um aspecto central da discussão. Subjetivar é você apreender o que está a sua volta, porém não como um aspirador que suga o que está fora, e sim que capta o de fora de acordo com elementos que se tem dentro. Ainda não li (mas com certeza irei ler) um capítulo de Lacan que fala da banda de moebius, essa da figura ao lado. Isso quer dizer que não há externo nem interno, quer dizer que o que está dentro está fora e o que está fora está dentro. Assim é nosso contato com o mundo, é via elementos internos que conseguimos ter um laço social e isso se integra na realidade psíquica. Por isso, cada cabeça uma sentença, apesar de os elementos serem os mesmos.
Recapitulando sobre a responsabilidade e subjetividade, temos então um ato de resposta frente ao que é nosso. E responsabilidade é o ato de responder frente há algo que nos exige alguma atitude. E como é que respondemos? Respondemos com os elementos que temos internamente, e é isso que temos que fazer, ser responsável por aquilo que fazemos questão (no sentido de perguntas e naquilo que queremos) e também no sentido de responder pelos atos que fizemos. Ocasiões que me arrepiam é quando há algum tipo de situação e as demais pessoas falam: “ah fulano fez isso porque é mal caráter”. Poxa, uma coisa que não entra na minha cabeça é por que as pessoas acreditam que essa resposta que ela deu tem a ver com o que a outra pessoa fez? Quem são essas pessoas que respondem pelos outros, por um ato que não lhe é próprio? Se está difícil responder pelo o que já é nosso, daremos conta de responder pelos atos dos outros? Ah faça-me o favor. Uma frase que sempre utilizo: ache menos e pergunte mais. Isso porque em toda ação há uma lógica implícita, e essa lógica diz de um funcionamento psíquico, quem tem que responder pelos atos é quem cometeu o ato.
Logo, a responsabilidade é um ato subjetivo... fazer uma análise é se tornar responsável por aquilo que se faz e fala. Realmente são poucos os que têm coragem de assumir suas próprias rédeas. Mais fácil é pedir para que o outro responda e continuar na re-clamação.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Originalidade de um texto em 1ª pessoa




A norma manda que o texto culto seja escrito em terceira pessoa do singular (acredita-se, sabe-se), e muito raramente na terceira pessoa do plural (sabemos, acreditamos). Porém, isso descaracteriza totalmente o belo que é ser autor de seu próprio texto. Na realidade isso é tão somente para garantir a tão sonhada neutralidade científica, só sonhada, porque nunca a vi na vida real.
Estava lendo um livro sobre a Reforma Sanitária Brasileira, e entre textos enjoativos e outros cansativos, encontrei um que deu prazer de ler. Um que narrava em primeira pessoa, um texto belíssimo que fala da mesma coisa que os outros, mas com a originalidade que é uma redação que fala em primeira pessoa. É uma produção original, algo que ele está falando e respondendo pelo seu ato de redigir um texto. Não “acha-se” ou “sabe-se”, é “eu sei, eu acho”. Um texto que nomeia a si próprio como autor das palavras ali escritas é um ato de responsabilidade, um ato que responde a uma questão que foi formulada pelo próprio sujeito.
Não se tem neutralidade científica e nem nenhum tipo de neutralidade. “Toda a vista é a vista de um ponto” já dizia Leonardo Boff se não me engano. Logo, toda opinião ou conceituação de determinada situação vai levar consigo o seu mais intimo que é a sua percepção da situação. Só que... as pessoas degradam isso, acreditam que isso é pejorativo. Muito pelo contrário, já que a realidade é algo que ninguém toca, mas sim todo mundo cria, vamos pelo menos ser responsáveis por aquilo que proferimos.
Nesse texto por exemplo, o autor ( Gastão Wagner de Souza Campos) pede desculpas, permitam-me citar ele, já que é para ser original: “E goiano que sou, vou logo repetindo como meus antepassados: - desculpem-me, qualquer coisa... qualquer coisa. Afinal, as coisas não são controláveis, ninguém as controla, nem os planejadores mais estratégicos. Em nenhuma situação. Nos laboratórios e em programas de computadores, talvez, quem sabe, se invente aparência de controle que nos apaziguaria. Já na vida real, é melhor desculpar-se, em princípio, pelo descontrole.”[1]
É muito mais bonito, espontâneo quando alguém traz em seu texto uma visão que é dele, e a primeira pessoa na redação evidencia esse tipo de leitura (e de escrita também). Bom, a finalidade do texto foi a de mostrar que nossos textos são parte de nós, parte que podemos eternizar algo de nós que somos tão finitos. Mais uma vez proponho a entrada do subjetivo na ciência que se acha tão objetiva, na realidade acredito que talvez a única coisa que ela não seja é original.
[1] CAMPOS,G.W.S, Análise crítica das contribuições da saúde coletiva a organização das práticas de saúde no SUS. In: FLEURY, Saúde e Democracia – A Luta do CEBES, São Paulo: Lemos Editora, 1997

sábado, 15 de agosto de 2009

Gripe nova e comportamentos velhos!




O que estou vendo como conseqüência da gripe suína (Influenza A- H1N1) é de assustar, pelo menos a mim. Acredito que todos também já devem ter notado, assim como também deve ter sentido e muito pouco expressado. A discriminação.
Ando ouvindo relatos sobre a exclusão das pessoas com a doença, ou até mesmo com a suspeita. Ninguém senta do lado de uma pessoa com mascara dentro do ônibus ( vai ver ela está se protegendo e já estão julgando), hospital é um suspeito, todo mundo levanta e sai de perto dele, espirra-se todos te olham, se te conhecem dizem: “é suína?”, se não te conhecem viram a cara para não respirar o mesmo ar (até uns meses atrás as pessoas eram capazes de falar “saúde” quando se espirrava, hoje querem te linchar).
Por esse processo que venho assistindo venho me surpreendendo pelo lado negativo com relação a esse quesito. Gente está virando cada um por si, e poucos pelos outros. Brinquei esses dias que estamos no fim do mundo, não que eu acredite piamente nisso, mas o fim de algo é sempre onde começa o novo e pensando assim é o fim dos tempos sim. É o fim de um ambiente puro e saudável, é o fim de um planeta que sempre deu e nunca cobrou, é o fim de pessoas acharem que são boas, é o fim de muitas coisas. Para começo de outras.
Penso em começo quando nos deparamos com esse ponto limítrofe entre saúde e doença, entre fartura e escassez, nesses períodos de transição que nos empurram para mostrar-nos realmente quem somos.
Bom fica ai uma alerta, essa questão da discriminação que está acontecendo. Pior que o vírus da gripe novo é um preconceito velho!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Gripe Inlufenza A-H1N1




Informes técnicos:
Antes de começar o texto propriamente dito acho interessante situar as pessoas sobre o que é essa gripe. Todas as gripes tem o nome de Influenza, isso é caracterizado como gripe no popular. Então, existem três tipos: Influenza A, Influenza B e Influenza C. A gripe A é de um tipo de vírus mais mutável em sua composição genética, o que quer dizer que ele se modifica rapidamente ficando mais resistente e podendo provocar um novo subtipo de vírus (como o H1N1); o tipo Influenza B tem mutação, porém não tão elevada quanto a A por isso apresentando um risco menor à população; e por último a Influenza C que não tem risco de mutações genéticas e por isso não apresenta maiores complicações.
Bom, o que isso tem relação com o nosso organismo? Assim como quando qualquer microorganismo entra em contato com nosso corpo, ele vai desenvolver formas de se defender de agentes patogênicos usando nosso sistema imunológico que são os anticorpos. Quando nós pegamos sarampo, por exemplo, nunca tínhamos entrado em contato com ela antes, certo? Então. Assim é com essa gripe, a diferença é que sarampo para o mundo inteiro já era conhecido, mas para o seu corpo não. E ao entrarmos em contato com cada novo vírus, dengue, sarampo, catapora, iremos ter que colocar nosso organismo para trabalhar. Somente assim é que ficaremos imunes às doenças entrando em contato com elas. Aposto que sua mãe ainda falava: “deixa eu por esse menino junto do seu que está doente, que é bom que pega logo e já desenvolve defesa!” Quantas vezes não ouvimos isso? É a mesma coisa, porém não conhecíamos esse vírus, ele começou a existir agora. É mais preocupante? Sim, pois estamos colhendo o efeito dele agora, e como ele muda muito rápido geneticamente, o problema é que sempre iremos que ter mais e mais defesas para combatê-lo. O que não acontece com aquela gripe que todo inverno você pega, que com o passar dos anos nem te baqueia tanto quanto da primeira vez, pois você já desenvolveu imunidade.
Agora falando sobre as gripes de pandemias, influenza aviaria e as gripes sazonais. As gripes sazonais são as que ocorrem em determinadas épocas do ano, quando o clima fica mais propicio para o surgimento de infecções, como no tempo de inverno. Tempo frio, maior perda de calor, maior dispêndio de energia, maior fragilidade do organismo, logo, uma bela gripe. Temos ainda a Influenza aviária, esse tipo de infecção é um tipo raro e que tem diferentes graus de gravidade (são as Influenza A-H5N1). As gripes pandêmicas são essas que tem características completamente diferentes (vírus mutado geneticamente, pois os sintomas acabam sendo os mesmos) e que a população apresenta baixa imunidade ou nenhuma, ainda. E como nós bem sabemos, gripe se transmite muito facilmente.
Outro informe que eu acho bacana de é que no Brasil, como no mundo todo, desde a gripe aviária há um plano de controle – PLANO BRASILEIRO DE PREPARAÇÃO PARA UMA PANDEMIA DE INFLUENZA. Ou seja, desde de 2000 há um plano de contingência que já vinha estabelecendo parâmetrtos para caso ocorresse esse tipo de pandemia já haveria um plano que nortearia todo o caos. É interessante dar uma olhada, apesar de ser grande pra caramba, vale a pena ficar por dentro das políticas e do que vem sendo desenvolvido, afinal de contas, faz parte da nossa cidadania ficar a par das políticas e também da nossa saúde nesse caso.
Ainda quero falar o principal sobre a tal gripe. Até agora foi informes técnicos. Segunda etapa esta no forno!




Referências:




Guia de Bolso: Doenças Infecto Parasitárias

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Paternidade Pre-sumida


Foi sancionada em 30/07/2009 a Lei da Paternidade Presumida. Essa lei discorre a respeito de que no caso do teste de DNA ser recusado o suposto pai, então, presumidamente seria o responsável pela concepção do filho em questão*.
Tive conhecimento disso pela TV Senado, no Programa Assembléia Debate, em que estavam compondo a mesa uma advogada, dois senadores de Minas Gerais e um psicanalista. Nesse debate falaram a respeito do aspecto legal dessa lei, assim como também um aspecto de responsabilidade social do Estado em assegurar para o filho a função do pai em sua na criação. O debate foi bem rico, a advogada trouxe considerações abrangentes e verdadeiras com relação à essa lei e os senadores também mostraram-se a par dos problemas sociais brasileiros. O psicanalista também teve seu mérito, pois trouxe um importante elemento - o caso a caso - afim de não querer generalizar a lei. Lei nós sabemos é para todos, mas surte o efeito é no um a um.
Bom, como fiquei com minha língua coçando para dar minha opinião a respeito do assunto, decidi trazer para o blog essa discussão.
Temos então duas questões a tratar. A primeira é da responsabilização do ato sexual frente à concepção de uma criança. É claro que como a mulher é quem traz consigo o filho, a carga dela acaba sendo maior. Mas, há que compartilhar o encargo com o parceiro que também teve sua parcela na hora da concepção. Essa responsabilidade, eu chamo do aspecto legal. Pois, o Estado tem o dever de chamar o individuo para a responsabilização de seus atos. É para isso que nos organizamos em sociedade, para que conjuntamente ofereçamos limites e segurança para a vida como um todo.
Posteriormente, temos a função do pai na criação do filho. Isso já é uma questão muito particular e que não temos subsídios para afirmar que a lei vai atingir esse patamar. A paternidade não é algo que vem junto da questão legal, e sim algo que é construído. Não se é pai ou mãe, tornam-se pais e mães. Quero chamar atenção para a palavra função, que não necessariamente se liga à pessoa do pai, e sim algo que transmite o que um pai pode oferecer. Não quero com isso, ignorar a pessoa do pai. Mas sabemos que há muitos pais que não transmitem essa função, deixando com que a sociedade ou outras pessoas (não necessariamente do sexo masculino) façam esse tipo de função. A função paterna é “não se pode fazer tudo o que quer, mas algumas coisas são possíveis.” Apesar de parecer simples, isso convoca o próprio sujeito enquanto pessoa para assumir esse lugar. E que muitos homens não conseguem daí responder, por uma questão pessoal. Penso então, que a lei tem que continuar assumindo o seu papel legal sem, contudo, querer abranger algo que é da construção de cada indivíduo em sua relação com seus atos.
No que se refere aos filhos, sendo eles com suporte do pai físico ou não, terá que se haver com sua existência, sua história e operar com uma função paterna transmitida. Ou seja, operacionalizar esse mecanismo de limite e correr atrás do que lhe é possível. É a tarefa de todos nós enquanto filhos de um Nome do Pai.


* Vale ressaltar que a paternidade presumida só é considerada quando há indícios e provas concretas de envolvimento dos parceiros na época em que a criança foi gerada.